terça-feira, 22 de janeiro de 2013

“Propaganda boa é aquela que consegue refletir sensações"

A cantora Negra Li fala sobre os novos rumos de sua carreira, comenta sua identificação com o Corinthians e afirma que o rap brasileiro já foi muito mais contestador.

Por Raissa Coppola
Esqueça a gritaria e a urgência das cobranças políticas que permearam boa parte da carreira de Liliane de Carvalho, mais conhecida pelo público em geral como Negra Li. Aos 33 anos, depois de se tornar mãe, a cantora está mais serena, se aventura a estudar balé e aposta na transição de sua música do rap para o soul e o R&B. Nesta entrevista, ela fala sobre os novos rumos de sua carreira, comenta sua identificação com o time do coração, o Corinthians, e afirma que o rap brasileiro já foi muito mais contestador. “Tempo bom que não volta mais”, diz.

MEIO & MENSAGEM ›› Você começou sua carreira no rap e hoje foca em canções com pegada mais soul. Como foi esse processo de mudança?

NEGRA LI ›› É um momento diferente da minha carreira. É uma evolução natural. Quando estava no hip-hop era uma coisa mais adolescente. No meu primeiro CD está clara aquela impulsividade de quem é jovem, de quem quer gritar. Hoje em dia não. Estou mais serena. Vejo o mundo de forma mais tranquila e isso foi uma mudança natural. Agora vou do pop ao reggae e, musicalmente, estou muito satisfeita. Coloquei em prática tudo o que aprendi em todos esses anos. Minha expectativa para 2013 é boa e começa com um show no Auditório Ibirapuera, no dia 22 de fevereiro.

M&M ›› Como vê hoje o rap brasileiro? Muitos críticos têm dito que o estilo tem tomado o lugar do rock no que diz respeito a fazer música de protesto.

NEGRA LI ›› Acho estranho pensar dessa forma, porque o rap protestava muito mais nos anos 1980, principalmente fora do Brasil. Aqui ainda é mais forte, mas nos EUA isso praticamente acabou. Gosto de acompanhar todo mundo crescendo. Hoje, as pessoas envolvidas com o hip-hop surgem como personalidades. Elas trabalham a carreira melhor que nós anteriormente. Antes era mais político, hoje é mais profissional. Meu xodó ainda é a década de 1990, como diz a música do Thaíde, “que tempo bom que não volta mais”. É bacana a renovação. Adoro o Emicida, a Flora Mattos, o Criolo. Torço por essa nova geração.

M&M ›› Você se considera uma precursora das mulheres no rap no Brasil?

NEGRA LI ›› De maneira nenhuma! Essa sensação vem das pessoas que não conheciam o rap internamente. Na mídia, sim, fui a primeira, inclusive a assinar com gravadora internacional. Mas quando entrei no movimento já havia muitas mulheres: Dina Di, Rúbia do Rpw, Sharon Line. Inspirei-me na Lauren Hill, na Mary J. Blige, e outras cantoras. M&M ›› Além de cantar, você tem exercitado com frequência a sua porção atriz. Como surgiu o desejo de encenar?

NEGRA LI ›› Começou com o filme Antônia (2006), que depois virou uma minissérie na Rede Globo. Fiz curso de teatro aos 15 anos, mas foi minha primeira oportunidade de colocar em prática o ofício, após dois meses de testes. Pra mim foi muito bom por representar o rap, a periferia e a mulher negra, tudo ao mesmo tempo. Até hoje recolho os frutos desse trabalho. Minha filha que nem era nascida, por exemplo, fala do trabalho. Éramos quatro protagonistas negras, foi muito legal começar dessa forma.

M&M ›› Você é corintiana e constantemente lembrada quando o assunto é o Corinthians. Tem medo de ter sua imagem muito identificada à do time?

NEGRA LI ›› Não, porque para mim é tudo uma grande brincadeira. Não acho que corintiano é melhor que palmeirense, que são-paulino. Chamaram-me para fazer uns trabalhos e acabei atrelada ao Corinthians. Não me incomodo. É uma forma de brincar, de torcer. Aliás, brinco que sou uma corintiana lilás, não roxa. É mais light (risos). Roxo era meu pai, foi ele que me fez torcer pelo Corinthians. Eu gostava de vê-lo torcendo. Não vou a estádios porque tem muita gente. Prefiro acompanhar de casa.

M&M ›› Você é bastante ativa nas redes sociais e tem o hábito de comentar TV, noticiário e filmes. Qual é o limite da interação com os fãs pelo Facebook e Twitter?

NEGRA LI ›› Gosto bastante de redes sociais. Eu adoro acompanhar novela com o Twitter, dou risada, é muito engraçado. A forma de ver TV mudou. Eu tento não ser muito polêmica, mesmo porque a resposta é muito rápida. É aquilo. Quem fala o que quer ouve o que não quer. Cuido pessoalmente do Twitter, mas minha equipe posta informações de shows e aparições em programas muitas vezes. Mas sempre identificado. Facebook eu também mexo, tenho perfil pessoal e página de artista. Quando as pessoas comentam, sou eu quem curte. Gosto de estar presente e dessa interação com os fãs. Outro dia bloqueei uma pessoa no Facebook por alguns comentários estranhos. As redes oferecem uma polêmica gostosa. É a oportunidade de mostrar que o artista não tem medo de dizer o que pensa.

M&M ›› Você é mãe de uma menina de três anos, a Sofia. O que acha da publicidade infantil?

NEGRA LI ›› Complicado. Por exemplo, os canais de TV que só passam desenho. Em épocas de Dia da Criança, tento deixar a minha filha longe da televisão, ela só assiste aos DVDs. Porque é boneca disso, boneca daquilo. Ela quer tudo. Mas ela só tem três anos! É propaganda em cima de propaganda e, às vezes, você se sente frustrado por não comprar o brinquedo. É uma loucura. Tem de tomar muito cuidado e eu me preocupo muito com essa questão.

M&M ›› Você já fez locução para um filme publicitário e já estrelou algumas campanhas. Qual é a fórmula de comercial que mais chama a atenção da Negra Li?

NEGRA LI ›› O Brasil tem muitas propagandas boas. Gosto bastante daquele último da Havaianas, com a Débora Nascimento e a Georgiana Góes em uma praia do Rio de Janeiro. Porque é exatamente aquilo: aquela mulher linda na praia e você vai sentar com seu marido bem do lado? Não dá, né? (risos). É bacana porque tem realidade no comercial. Propaganda não é só vender produto, gosto de quando ela reflete sensações que já passamos um dia. Gosto muito de fazer publicidade e eu gostaria de fazer muito mais. Inclusive eu procurei uma agência para saber o que a Negra Li vende, que mensagem eu estou transmitindo. Para 2013, esse é um dos meus projetos.

fonte: http://www.meioemensagem.com.br/home/gente/sapo_de_fora/2013/01/21/Propaganda-boa-e-aquela-que-consegue-refletir-sensacoes.html

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