É quase impossível dissociar a trajetória dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, 35 anos, OsGemeos, da cultura hip hop que moldou a voz e a criatividade de Liliane de Carvalho, mais conhecida como Negra Li, 30 anos. Faz todo sentido, portanto, que os três artistas apareçam lado a lado hoje para encerrar o ciclo de debates Arte/Inconsciente no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) com o tema A força das ruas.
Nascidos e criados no bairro paulistano do Cambuci, OsGemeos começaram a grafitar ao mesmo tempo em que descobriam o break e o rap, na adolescência. "A gente viu a coisa surgir nos anos 1980, não tinha nem disco gravado. Nessa época a gente já grafitava, mas os temas eram mais voltados para a cultura hip hop", conta Gustavo. De dançar e cantar - porque inevitavelmente os meninos acabaram interpretando rap nos bailes e festas que frequentavam - passaram a grafitar cada vez mais até chegar à necessidade de encontrar um estilo próprio. Já corriam os anos 1990 e OsGemeos empreenderam o voo que os alçou à dupla de grafiteiros mais famosa do Brasil. "A gente quis buscar nosso caminho, deixar um pouco a cultura hip hop e buscar a nossa essência."
A procura levou aos personagens amarelos que povoam todo desenho da dupla e protagonizam a vida em Tritrez, um planeta imaginário, um universo particular e agradável. Os habitantes de Tritrez são a marca, o indicador da passagem de Otávio e Gustavo por uma paisagem urbana qualquer, embora esse cenário seja cada vez menos frequentado.
Em 1999, OsGemeos levaram os personagens dos muros para o mundo tridimensional com uma série de réplicas expostas em coletiva na Alemanha. Na mesma época, começaram a expor em galerias e o que era arte de rua começou a ganhar novas perspectivas. "São coisas diferentes, apesar de ser o mesmo estilo, a mesma técnica. O grafite acontece do lado de fora. Quando leva para a galeria, não é mais grafite, perde essa essência da rua. Na rua, você sofre todo tipo de interferência, lida com a surpresa a toda hora, o espaço está pronto, não tem que criar. Na galeria, o trabalho é o mesmo, mas o universo que te rodeia é diferente, você tem que criar todos os ambientes e esse foi um dos motivos de querer trabalhar nesse universo", conta Gustavo.
Hoje, OsGemeos são convidados no mundo inteiro para pintar murais. Fizeram isso recentemente na Tate Modern, em Londres, e em Nova York. Para a rua, sobra pouco tempo. "Mas saímos recentemente, há três semanas, um domingo, para pintar. Hoje é menos comum, não temos tanto tempo." O tempo tem sido consumido no trabalho para galerias e exposições como Vertigem, reunião de 60 obras em cartaz na Faap (São Paulo) e agendada para 2010 no CCBB de Brasília.
Negra Li também forjou a voz no mundo da black music e do rap. Nem planejava ser cantora. Desde a infância, já desfilava em passarelas de moda, mas a parceria com o DJ Helião rendeu o primeiro disco, Guerreiro guerreira. Foi o caminho para a carreira solo. Em 2006, veio Negra live, com faixas compostas pela própria cantora e, em seguida, a participação no filme Antônia, de Tata Amaral. Desde então, Negra Li não deixou mais estúdios e palcos. Durante o debate de hoje, Gustavo espera conversar com a cantora sobre as mudanças na cena do rap dos anos 1980 para cá. "Mudou muita coisa, tudo evoluiu muito rápido e tudo se descarta muito rápido", repara o artista.
Arte/Inconsciente - A força das ruas
Com Negra Li e OsGemeos. Mediação: Paulo Paniago. Hoje, às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília. Entrada franca mediante retirada de ingressos 30 minutos antes na bilheteria.
Fonte: Correio Braziliense
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